Tem coisa que a gente não aprende no Google. A gente herda. A gente observa. A gente sente.
Fazer uma rede de pesca, por exemplo, é quase como fazer um poema: tem que ter ritmo, ponto, intervalo e intenção.
Começa com uma linha-mestra. É ela que guia o caminho. Dela saem nós — firmes, delicados, cheios de memória.
Navete na mão, régua no colo, olho atento. Cada ponto segue o outro, como se houvesse uma partitura invisível entre os dedos.
Você faz o nó, puxa, aperta.
Faz de novo. De novo. De novo.
Às vezes no silêncio, às vezes entre conversas.
Mas sempre com a consciência de que o que está sendo feito…
Até que, sem perceber, surge uma malha.
E dessa malha, nasce um ofício. E desse ofício, vem sustento.
E não é só uma rede. É herança.
É uma linha esticada entre o agora e tudo o que veio antes.
E como toda boa tradição, não se aprende com pressa.
Se aprende com tempo. Com falha. Com correção.
Com paciência que só quem vive do mar consegue cultivar.
Em Arraial do Cabo, isso ainda vive.
Nas varandas. Nas feiras. Nos olhos de quem não esqueceu como se faz.
Porque preservar esse saber não é nostalgia.
É compromisso com o que é belo.
Com o que é nosso.